Publicado no caderno de Opinião do Jornal do Commercio, 18/09/2012
Por Jean-Jacques Gaudiot, consultor em estratégia internacional
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O espetáculo do mensalão que passa na televisão, lembra a todos uma verdade de base na vida política: não é o temor de um julgamento que reeducará nossos políticos, sejam eles de quaisquer partidos ou coligações. Também não é o medo de serem ridículos, pois estão argumentando que não estavam roubando, porém, sim, criando caixa dois (eu não entendi ainda a diferença). Eles nem sabiam que aquela sacola tinha R$ 330 mil! Nem sequer parecem estar com a decência de poupar a própria família da vergonha pública, daí teriam reconhecido o óbvio já faz tempo.
A única coisa que assusta e movimenta um político, qualquer que seja seu partido, no Brasil e no mundo inteiro, é o medo de não ser eleito. E com as eleições municipais chegando, precisamos usar desse trunfo, o nosso voto, para melhorar a cidade do Recife.
Hoje, os candidatos estão com campanhas eleitorais tipo “tenho apoio do superpoderoso João Fulano” e com slogans empolgantes, porém vazios, tipo “a força do povo” (aliás, qual é sua fraqueza?), e “vote em mim”. Parafraseando John F. Kennedy, não queremos saber o que podemos fazer para eles e sim queremos saber o que eles podem fazer para nós e para nossas famílias.
Todos eles, candidatos, estão com belas declarações semelhantes: melhorar a educação, a saúde, o saneamento, etc. Entretanto, queremos saber como eles vão realizar essas ações: números, valores dos recursos usados e prazos de entrega. A dificuldade não reside na definição dos objetivos, mais sim na implantação desses.
Pegamos o exemplo de mobilidade urbana. Hoje em dia, é notório e incontestável afirmar que o trânsito na cidade é um caos. Movimentar-se rapidamente na cidade é uma condição imprescindível do desenvolvimento econômico, quer seja para as pessoas, quer seja para as mercadorias.
Recentemente, demorei três horas para ir de Boa Viagem para o Curado, ou seja, o mesmo tempo gasto para voar do Recife para São Paulo. Como prédios continuam sendo construídos, é fácil prever que os congestionamentos piorarão em curto prazo. Os viadutos na Agamenon Magalhães se forem construídos, serão somente um curativo em cima de uma perna de pau. E isto, na melhor das hipóteses, em longo prazo. Vamos pedir aos candidatos passar uma prova, uma espécie de vestibular, começando pela matéria “mobilidade urbana”. Seremos nós, os cidadãos, o júri do exame.
Por exemplo, para os ônibus, queremos entender como será acrescido o número de veículos, como os motoristas serão treinados para respeitar as faixas, as paradas, os sinais fechados. Como pretendem diminuir o custo do bilhete para os estudantes e para os menos favorecidos. Para o metrô, quais seriam os planos de novas linhas e a intersecção com outros meios de transporte?
Em outras palavras, queremos que os futuros gestores-prefeitos, em vez de apresentar discursos bonitos e charmosos, conceitos imateriais, expliquem e detalhem visões pragmáticas, junto com os planos de implantação cuja execução vai moldar nossa realidade nos próximos anos.
Jean-Jacques Gaudiot é consultor internacional e sócio da EZreport
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