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EUROPA: A MUDA

Publicado 05/11/2012

Por Jean-Jacques Gaudiot, consultor em estratégia internacional

A Europa está passando por uma crise que começou alguns anos atrás e parece não ter fim. Alguns já estão predizendo a implosão dessa estrutura que se montou uns dez anos atrás, bem como a queda do Euro como moeda única.

A As raízes do mal são várias, e podemos destacar as maiores. Primeiro, a associação desses Estados se fez no entusiasmo, mas com uma péssima preparação. A união foi essencialmente econômica, financeira, e não política; hoje se sente falta de uma verdadeira governança para saber quem poderia resolver os problemas, e de que forma.

Depois, nem todos os Estados estavam no mesmo estágio de desenvolvimento. Entre a Alemanha, país robusto com forte tradição de exportação, e a Grécia, nação com um PIB dez vezes menor e com economia essencialmente baseada no turismo, havia diferenças demais. Diz-se que a Grécia nem devia ter sido admitida na União.

Essa crise, ao contrário de destruí-la, vai fortalecer a Europa. Ela se reerguerá e se reinventará. No futuro, os países mais fracos ou despreparados verão suas responsabilidades diminuir dentro da União, ou até deixarão a União. A liderança será assumida pelos países mais fortes, encabeçados pela Alemanha. A União não será somente financeira e econômica, porém também política e cultural, com regras de governança transnacionais montadas para evitar a repetição de crises semelhantes.

Enfim, a Europa deverá encarar problemas comuns a todos os Estados: a dívida e a imigração. A dívida vinha aumentando já faz varias décadas. O Estado da França, por exemplo, gasta duas vezes mais do que arrecada, compensando esta perda com um pequeno aumento da dívida, cada ano, até, como hoje se tornar intolerável.

O problema que deve se resolver é o de uma dona-de-casa qualquer: como não gastar mais do que ganha. No caso do Estado, o problema é psicológico: explicar aos cidadãos que é tempo de mudança radical enquanto se fez acreditar, covardemente, durante tanto tempo que a festa ia ser eterna. Será o fim do Estado-providência que resolvia todos os problemas dos seus cidadãos.

O debate sobre a imigração é o que definirá o que a Europa é, e o que ela não é, o que ser Europeu significa. Imigrantes estão chegando de várias partes do mundo, com fome, porém poucas competências, e com valores intelectuais e crenças religiosas muito diferentes dos que existiam ha séculos nos países que os recebem. A integração dos imigrantes da África do Norte e da Turquia, mesmo após a aparição das segundas e a terceiras gerações, se revela ainda um fracasso.

Como a muda biológica, a transformação da Europa acontecerá, através de muitas dores, e pode ser esperada num prazo de uns dez anos. O que dizia Nietzsche a respeito dos homens se aplica também às sociedades: o que não nos mata nos torna mais fortes. E para o Brasil, duas grandes oportunidades estão surgindo.

Primeiro, as empresas europeias vão procurar seu crescimento com os mercados dos países emergentes. Elas precisarão tecer relações com os famosos Brics e vão precisar de parceiros locais. As empresas brasileiras já estão numa inusitada posição favorável de negociação.

Segundo, há empresas europeias com fortes centros de inovação e de tecnologia, matérias na quais o Brasil precisa melhorar. É tempo para nossas empresas ir às compras na Europa: nesses mercados deprimidos, os preços de aquisição vão ser mais baixos. Além de adquirir conhecimento e tecnologias em curto prazo, é também a possibilidade de se preparar para um mercado local que, sem dúvida, decolará de novo a médio e longo prazo.

Jean-Jacques Gaudiot é consultor internacional e sócio da EZreport

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